segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

BIOMIMETISMO

Imitando a natureza

  A natureza atuará não apenas como provedora de ativos para a produção de produtos, mas na orientação de novos processos e modelos de negócios, com benefícios econômicos, ambientais e sociais

  Em 1948, depois de um passeio com seu cão de estimação, o engenheiro suíço George de Mestral dedicou-se por alguns minutos a observar os cardos – popularmente chamados de “carrapichos” – retirados das próprias calças e do pêlo de seu animal. Descobriu que as pequenas e “pegajosas” sementes vegetais continham, em sua estrutura, minúsculos ganchos nas pontas. A partir dessa experiência, inventou o velcro. Na época, ele ficou desiludido com o fato de os estilistas de moda não aderirem imediatamente ao material, “provavelmente devido ao barulho de rasgão.” Anos mais tarde, a invenção seria utilizada na primeira cirurgia cardíaca artificial, tendo como um dos clientes inaugurais nada menos que a Agência Espacial Americana (NASA), que passou a usar o velcro para prender objetos soltos em condições de gravidade zero e no interior dos capacetes e nas luvas – maneira de facilitar aos astronautas, por exemplo, coçar a cabeça com mais facilidade na hora do sufoco.
  Iniciativa relevante é o Nature’s Best 100, projeto em desenvolvimento para pesquisar as informações biológicas disponíveis em cerca de 10 a 30 milhões de espécies. Uma relação de designs e estratégias bem adaptadas da natureza está sendo compilada, classificada e votada em colaboração com cientistas, empresários e políticos de todo mundo. A lista final, com 100 indicações, destacará os organismos e ecossistemas ao redor do mundo com maior potencial de soluções inovadoras nas áreas de fabricação, materiais, saúde, energia, química, agricultura, silvicultura, pesca, construção e economia. A IUCN (União Internacional Para Conservação da Natureza) e o INEP (Programa Ambiental da ONU) estão entre os parceiros dessa experiência.
  Se a tendência do biomimetismo realmente se confirmar, nos próximos anos, ela acabará por dar novo tom à conhecida paródia da Lei de Lavoisier de que “neste mundo, nada se cria, tudo se copia.” Se é para copiar, que, pelo menos, seja do original!
BOX: Candidatos à lista Nature’s Best 100

•  Ar-condicionado inspirado em cupinzeiros
•  Cluster econômico inspirado nas florestas tropicais
•  Negócios com maior valor agregado baseados na reciclagem de nutrientes
•  Controle de bactérias inspirado nas algas vermelhas
•  Material de construção de CO2 inspirado em moluscos
•  Sistema de “colheita nevoeiro” (fog harvest) inspirado em um besouro do deserto
•  Cluster econômico inspirado no manguezal
•  Vacinas sem refrigeração inspiradas na planta da ressurreição
•  Fabricação de fibra inspirada nas aranhas orbitelas ouro
•  Sistema de purificação de água inspirado no ecossistema pantanal
•  Sistema de captura de C02 baseado nas algas
•  Substituição de marcapasso inspirada nas baleias jubarte
•  Retardante de fogo inspirado em células animais
•  Plásticos de CO2 baseados em plantas
•  Automontagem de vidro inspirada em esponjas do mar
•  Método de cicatrização que reproduz técnicas das moscas
•  Células fotovoltaicas inspiradas no mecanismo das folhas
•  Ventilador sem atrito inspirado no molusco nautilus
•  Controle bacteriano inspirado na planta bérberis
•  Superfícies de autolimpantes inspiradas na flor-de-lótus
•  Branqueadores ópticos inspirados no besouro Cyphochilus
•  Adesão sem cola inspirada no lagarto geckos

Biomimetismo à brasileira


   Pesquisas com algas demonstraram seu potencial de redução das emissões de carbono em unidades fabris. Em 2007, a Furg firmou um convênio com a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica – Eletrobras CGTEE para instalação de uma planta-piloto para fixação de carbono por microalgas na Usina Termelétrica Presidente Médici – UTPM – Candiota II. Nesses três anos de operação, constatou-se um potencial de redução de 50% nas emissões, estimadas em três milhões de toneladas por ano naquela unidade.
 A Furg também tem uma parceria com a Afasa, indústria de sacos plásticos localizada em Ribeirão Preto, onde instalou uma planta-piloto para desenvolvimento de biopolímeros PHB a partir de microalgas. “Esses materiais podem ter uma série de aplicações como a fabricação de sacolas plásticas e embalagens de alimentos biodegradáveis”, explica Jorge Alberto Vieira Costa, professor da Universidade Federal do Rio Grande, responsável pelos projetos citados.

Skate de Bambu

No Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), o foco de pesquisa está na exploração de novas funcionalidades apresentadas pelos organismos e sistemas naturais. Esse tipo de abordagem proporcionou o desenvolvimento de um shape de skate feito de bambu para a empresa Cisco. “Nos baseamos nas funções flexibilidade e resistência do bambu, que é até cinco vezes mais resistente do que a madeira. Além de ser mais sustentável, devido ao seu rápido crescimento”, explica Alexandre Akira Takamatsu, gerente da divisão de Tecnologias Sociais da Tecpar. Outro projeto do instituto é o de biossistemas integrados, em que os pesquisadores procuraram compreender como a natureza estabelece ciclos fechados, reproduzindo essa lógica na gestão de resíduos da suinocultura.

Prédio em dubai imitando a cadeia interna dos ossos.


Prédio em Londres imitando um cupinzeiro
Prédio conceito baseado em colméia


Pés de pato agora são nadadeiras de baleia.

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